Sabe quando você percebe
que tem algo errado? Quando você está bem próximo o precipício? Pensando um
pouco a resposta não é tão difícil, é simples, mas o mais importante está na
pergunta, ao ter algo errado a solução pode ser simples, após identificar o
erro basta procurar a solução e colocá-la em prática, mas a beira do precipício
não é tão fácil assim.
Algo está errado, quando seu corpo
está cansado, quando você se sente incomodado com algo ou alguém, quando seu
estresse está no máximo, quando coisas simples te tiram do sério, você fica
nervosa, triste… são pontos em que você nota tem algo errado, então você
procura ajuda, uma solução. Mas quando você está abeira do precipício não
assim tão simples, já passou a fase "tem algo errado", você
já procurou pela ajuda, e não achou. O precipício vem depois daquele momento em
que você se dá conta que está sozinho, que ninguém vai lhe ajudar, apoiar, ou simplesmente
lhe oferecer um ombro para chorar.
Você nota que chegou ali, quando as coisas que você mais gostava,
simplesmente perdem a graça ou você não tem mais forças para efetuá-las, aquele
passatempo que você amava não lhe atrai mais. Aquela jovem que virava as noites lendo
livros e livros, hoje não tem ânimo para ler um post em rede social, aquela
pessoa que adorava escrever, ler, responde os comentários em suas postagens, hoje
demora séculos para escrever uma linha, e muitas vezes refaz a mesma diversas
vezes. A escrita alegre se torna melancólica, as músicas e vídeos de danças dão
lugar a palestras de motivação em uma tentativa vaga de tentar se reerguer. Aquela profissional exemplar, sempre concentrada no trabalho, se tornou
dispersa, e lenta, não por perder a eficiência, mas a vontade de voltar para
casa no fim do dia.
Lembra daquele
sorriso que iluminava a todos ao redor, aquela alegria, a
gargalhada fácil? Foram se perdendo gradualmente, hoje tem pessoas ao seu redor que
jamais ouviram sua bela gargalhada ou aquele brilho no seu olhar, mas ninguém notou. Ninguém notou você se fechando para si, ninguém notou que você não canta mais,
não dança, ninguém notou seus olhos inchados de tanto chorar, nem a dor
refletida em seus olhos. Seu corpo não tem marcas, mas sua alma está dilacerada. As poucas vezes em que fala que não está bem, qual a resposta? Nunca é uma mão
amiga para te ajudar, são sempre palavras julgadoras que acerta sua alma como
uma chuva flechas, nunca, surge alguém para juntar os caquinhos, na verdade, às vezes parece que querem transformar os caquinhos em pó.

Acho que já passou da
hora das pessoas notarem que as palavras machucam e muito, que as ações ou ausência
delas falam mais que milhares de “eu te amo”! Me pergunto que amor é esse,
que está sempre pronto para te derrubar, para te fazer sentir a pessoa mais inútil
da face da terra, criticam sua roupa, seu cabelo, as músicas que você gosta,
sua forma de fala, seus hobbies, sua alegria? Que amor é esse que fez e faz de
tudo para te manter o máximo isolada do mundo, te afasta dos amigos, afinal “Só
querem te explorar, e escola/faculdade/trabalho não é lugar de amigos”. Passam horas criticando seu local de trabalho, afinal “eles não te pagam hora
extra? Não tem mais ninguém lá para fazer isso? Não confie em ninguém, eles
querem te derrubar.” Ou pior, te faz sentir como se nada que você faça é
importante, afinal, “você não tem nada de importante para fazer hoje, pode
faltar o trabalho para levar meu filho ao parque? “Você não tem filho,
marido, família, então não entende meu cansaço, pode muito bem trabalhar a
semana toda e aos fins de semana cuidar dos seus sobrinhos, afinal eu preciso
descansar”.
O que as pessoas esquecem que o precipício é atrativo, aquele momento
que você olha para baixo você não tem mais vontade de sair dali, pelo contrário
sua vontade é de se jogar e abraçar a escuridão, afinal ela é sua melhor amiga e
ninguém te entende como ela. E para ir contra a vontade de se jogar é preciso
uma força extrema, força essa que muitas vezes não temos mais.
Voltando a pergunta,
você sabe que está à beira do precipício, quando se cala, quando não sente mais
nada, não vive e sim sobrevive, e não tem ideia de como sair da beira. Prometo que
quando descobrir te aviso ou talvez tenha que esperar meu cavaleiro ou ceifador
vir me salvar, só espero que não demore muito.