janeiro 30, 2023

O Precipício


Sabe quando você percebe que tem algo errado? Quando você está bem próximo o precipício? Pensando um pouco a resposta não é tão difícil, é simples, mas o mais importante está na pergunta, ao ter algo errado a solução pode ser simples, após identificar o erro basta procurar a solução e colocá-la em prática, mas a beira do precipício não é tão fácil assim. 

         Algo está errado, quando seu corpo está cansado, quando você se sente incomodado com algo ou alguém, quando seu estresse está no máximo, quando coisas simples te tiram do sério, você fica nervosa, triste… são pontos em que você nota tem algo errado, então você procura ajuda, uma solução. Mas quando você está abeira do precipício não assim tão simples, já passou a fase "tem algo errado", você já procurou pela ajuda, e não achou. O precipício vem depois daquele momento em que você se dá conta que está sozinho, que ninguém vai lhe ajudar, apoiar, ou simplesmente lhe oferecer um ombro para chorar.

        Você nota que chegou ali, quando as coisas que você mais gostava, simplesmente perdem a graça ou você não tem mais forças para efetuá-las, aquele passatempo que você amava não lhe atrai mais. Aquela jovem que virava as noites lendo livros e livros, hoje não tem ânimo para ler um post em rede social, aquela pessoa que adorava escrever, ler, responde os comentários em suas postagens, hoje demora séculos para escrever uma linha, e muitas vezes refaz a mesma diversas vezes. 
       A escrita alegre se torna melancólica, as músicas e vídeos de danças dão lugar a palestras de motivação em uma tentativa vaga de tentar se reerguer. Aquela profissional exemplar, sempre concentrada no trabalho, se tornou dispersa, e lenta, não por perder a eficiência, mas a vontade de voltar para casa no fim do dia.
      
Lembra daquele sorriso que iluminava a todos ao redor, aquela alegria, a gargalhada fácil? Foram se perdendo gradualmente, hoje tem pessoas ao seu redor que jamais ouviram sua bela gargalhada ou aquele brilho no seu olhar, mas ninguém notou. Ninguém notou você se fechando para si, ninguém notou que você não canta mais, não dança, ninguém notou seus olhos inchados de tanto chorar, nem a dor refletida em seus olhos. Seu corpo não tem marcas, mas sua alma está dilacerada. 
As poucas vezes em que fala que não está bem, qual a resposta? Nunca é uma mão amiga para te ajudar, são sempre palavras julgadoras que acerta sua alma como uma chuva flechas, nunca, surge alguém para juntar os caquinhos, na verdade, às vezes parece que querem transformar os caquinhos em pó.


          Acho que já passou da hora das pessoas notarem que as palavras machucam e muito, que as ações ou ausência delas falam mais que milhares de “eu te amo”! Me pergunto que amor é esse, que está sempre pronto para te derrubar, para te fazer sentir a pessoa mais inútil da face da terra, criticam sua roupa, seu cabelo, as músicas que você gosta, sua forma de fala, seus hobbies, sua alegria? Que amor é esse que fez e faz de tudo para te manter o máximo isolada do mundo, te afasta dos amigos, afinal “Só querem te explorar, e escola/faculdade/trabalho não é lugar de amigos”. Passam horas criticando seu local de trabalho, afinal “eles não te pagam hora extra? Não tem mais ninguém lá para fazer isso? Não confie em ninguém, eles querem te derrubar.” Ou pior, te faz sentir como se nada que você faça é importante, afinal, “você não tem nada de importante para fazer hoje, pode faltar o trabalho para levar meu filho ao parque“Você não tem filho, marido, família, então não entende meu cansaço, pode muito bem trabalhar a semana toda e aos fins de semana cuidar dos seus sobrinhos, afinal eu preciso descansar”.

O que as pessoas esquecem que o precipício é atrativo, aquele momento que você olha para baixo você não tem mais vontade de sair dali, pelo contrário sua vontade é de se jogar e abraçar a escuridão, afinal ela é sua melhor amiga e ninguém te entende como ela. E para ir contra a vontade de se jogar é preciso uma força extrema, força essa que muitas vezes não temos mais.

Voltando a pergunta, você sabe que está à beira do precipício, quando se cala, quando não sente mais nada, não vive e sim sobrevive, e não tem ideia de como sair da beira. Prometo que quando descobrir te aviso ou talvez tenha que esperar meu cavaleiro ou ceifador vir me salvar, só espero que não demore muito.



 




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